sábado, 22 de março de 2025

COISAS DE BAÚS - 6

 GUINÉ-BISSAU

CLUBE DE FUTEBOL "OS BALANTAS DE MANSOA" 


            A fotografia foi obtida por mim, com uma máquina fotográfica que em 1965 era possível possuir. Permanecemos neste local alguns  meses e daqui nos deslocámos para Bissau a fim de embarcar de regresso a casa.
                 Foi interessante conhecer a sede do Clube de Futebol "Os Balantas", que se situava na cidade de Mansoa, importante núcleo populacional e situada na região administrativa do Oio, onde a guerrilha tinha alguma atividade considerada constante e bastante perigosa.
                Banhada pelo rio Mansoa, Balanta é uma palavra que significa "aqueles que resistem" . Grupo étnico de origem nìgero-congolês que se encontra dividido entre a Guiné-Bissau, Senegal e a Gâmbia. É o maio grupo étnico da Guiné-Bissau com mais de 25% da população do país.
                Voltando ao clube: Fundado em 18 de setembro de 1946, foi uma filial do clube de futebol "Os Belenenses", de Portugal. Foi o primeiro clube campeão da Guiné-Bissau após a independência deste território, ex-colónia portuguesa, que se verificou em 1974, como é sabido.
                    O estádio de nome "Estádio Corea Sow" Tem uma capacidade de 3.000 lugares.










sexta-feira, 21 de março de 2025

IMAGENS DA MINHA TERRA - 4

 UMA REPRODUÇÃO -UMA RECORDAÇÃO 



A fotografia aqui exposta foi obtida há bastante tempo. O que se pretendeu recordar, como é fácil concluir, foi uma fonte que existiu no lugar da Veiga. Para isso, a consumação da reposição recordatória foi da autoria do conterrâneo ali residente, Élio Dias de Oliveira.

O Élio, um hábil artífice da madeira, como é sobejamente conhecido, num talvez assomo das suas  capacidades, lembrou-se de fazer, em madeira, o que foi o antigo fontenário. O local é fácil de identificar.

Um pequeno e singelo apontamento do que pode constituir um contributo de embelezamento urbanístico de um local.

quarta-feira, 19 de março de 2025

COISAS DE BAÚS - 5

GUINÉ-BISSAU 

MELANCOLICAMENTE 

Decorriam os longínquos anos de 1963/1965. Admite-se, mais concretamente, o ano de 1964. Num outro blogue de nossa autoria que passámos nas  autoestradas cibernautas, e anda estas bandas;        http://www.terrasdomarnel.blogspot.pt 
 houve oportunidade de plasmar vários apontamentos sobre este país, como se sabe ex-colónia portuguesa. 
Passado todo este tempo, ainda temos algumas imagens fotográficas daquele território de África para onde nos impunham a obrigatoriedade de ali permanecer dois anos ou mais com a justificação de que era imperioso defender as populações, os colonos, porque, dizia-se, era ali também uma parte da Nação Portuguesa.


Numa zona do mundo onde tudo faltava, mesmo naqueles idos anos, o contacto com o território, as suas gentes, o seu modo de vida, a sua cultura, fomos, em certa medida, surpreendidos.
Para se acrescentar que os militares, salvo casos menos penosos, porque cingidos a áreas urbanas de acentuada densidade populacional, formos introduzidos no território sem algumas das básicas condições.
Está, neste caso, a barbearia, concretamente o corte de cabelo. Valia-nos um prestável camarada de armas, que tendo na vida civil exercido as funções de babeiro e cabeleireiro nos ia aparando higienicamente as cabeleiras ainda jovens dos seus vinte e picos anos.
O local, claro está, ainda permanece residente na memória dos tempos. Era uma localidade que, com pouco mais ou menos uma dezena de habitações de construção europeia, ocupadas por cidadãos europeus, principalmente de Portugal com todos as comodidades mínimas, já classificada de vila de Ingoré, situada a escassos cinco quilómetros da fronteira com o Senegal, sendo servida por  uma estrada de terra batida que lhe passava pelo meio em direção a S. Domingos, já próximo de Suzana, seguindo-se Varela uma belíssima praia tropical muito frequentada por cidadãos franceses que vinham do Senegal, onde costumavam passar férias. Tivemos oportunidade de ali nos deslocarmos e lá passar umas horas de pura descontração. Esta praia apinhada de pequenas habitações, ficou abandonada logo que começaram as hostilidades com os guerrilheiros do PAIGC.
O mesmo já a memória dos tempos não conseguiu "armazenar" o nome do barbeiro da companhia que lá ia "tosquiando" os seus companheiros, para que se apresentassem perante todos, incluindo os nativos/nativas,  com a sua melhor aparência. 
E à falta de melhores condições, até à beira da estrada servia de salão e se procedia a esta metamorfose. É desnecessário identificar que o "cortado" sou eu, já com uma adequada proteção que cobria os ombros dos incomodativos cabelos que iam caindo. E, no fim, até me sentia mais leve e catita! Que acham?                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

sexta-feira, 7 de março de 2025

VOCAÇÕES DA MINHA TERRA - 4

 O Senhor Ernesto

 

O senhor Ernesto é madrugador

Acorda às sete sem despertador

Vai com um saco de pano comprar o pão

Para si e para a sua Conceição

Àquela hora não se vê muito movimento

Conversa com o padeiro sobre o preço do fermento

Depois do café com leite e um pão torrado

Faz uma ronda à horta como um nobre soldado

Alimenta as quatro galinhas poedeiras

E traz os ovos direitinhos numa seira

O almoço é feito pela sua Conceição

Ele lava a loiça e admira-lhe a confeção

À tarde sentam-se à sombra de uma laranjeira

E nem tentam lutar contra a teimosa soneira

Vivem da pensão de uma velhice sovina

Mas que dá para os dois e para uma cadela franzina

A filha depois de formada abalou da casa dos pais

Foi para Lisboa porque lá é tudo muito mais

O senhor Ernesto já não tem sonhos pendentes

Porque a vida já lhe deu muitos presentes


Há já algum tempo que não inserimos qualquer coisa que denuncie a existência de vocações que por aí grassam, felizmente. Hoje veio-nos cair na caixa de correio eletrónica o poema que acima se encontra plasmado, da autoria de uma poetisa local, que dá pelo nome de Isabel Marias Tavares Mendes. O blogue que utiliza para publicar os poemas de que é autora (inscrita na Sociedade Portuguesa de Autores) tem este endereço cibernauta: http://apoesiadaisamar.blogspot.com onde podem ser apreciados outros poemas sobre os mais diversos temas desta vida passageira. Este é mais um dos temas da nossa vida, que até se pode dizer escrito com algumas brejeirice, que nos dispõe bem...












 

sábado, 1 de março de 2025

COISAS DE BAÚS - 4

OS REGEDORES DA FREGUESIA

Quando em 13 de Janeiro passado postámos uma pequena biografia do Eng.º Bastos Xavier, ficou-nos na retina da memória o episódio de não ter sido reconduzido na presidência da Câmara Municipal de Águeda, por discordar dos argumentos que o governo invocou para não reconduzir o regedor de Recardães que, como sabemos, é uma freguesia do nosso concelho. 
Esta  curiosidade "empurrou-nos"  para a pesquisa do que foi e o que representava a figura do Regedor numa freguesia, ou até paróquia, quando estas  foram oficialmente reconhecidas, levando-nos até a recordar uma pessoa da freguesia de Valongo do Vouga que desempenhou estas funções. Mas vamos por partes:

A CRIAÇÃO:

REGEDOR: Foi a designação atribuída a alguns magistrados e funcionários em diversos países, com funções variáveis, sendo esta função adotada em Portugal com a reforma administrativa de Mouzinho da  Silveira de 1832, pelo que cada paróquia teria um órgão administrativo local (a Junta de Paróquia) e um magistrado administrativo representante da administração central conhecido por Comissário de Paróquia.
Entretanto o Código Administrativo de 1836 substituiu o Comissário de Paróquia pelo Regedor,  com competências semelhantes.

AS COMPETÊNCIAS:
As competências dos Regedores eram um tanto ou quanto análogas às dos administradores dos concelhos, agindo subordinados a estes à escala paroquial e, essencialmente, as suas funções consistiam em garantir o cumprimento e a aplicação das leis e regulamentos administrativos, tendo ainda cumulativamente autoridade policial na área da freguesia.
A  última regulamentação dos Regedores foi estabelecida pelos Códigos Administrativos de 1936 e 1940, em pleno apogeu do conhecido e apelidado regime fascista.

AS FUNÇÕES:
Entretanto o Regedor deixou de ter as funções de magistrado administrativo, passando a ser o representante do presidente da Câmara e nomeado por este, com exceção dos concelhos de Lisboa e Porto.
Resumidamente as funções passaram a ser a de cumprir e fazer cumprir as ordens, deliberações, posturas municipais e os regulamentos de polícia,  levantar autos de transgressão sempre que necessário, auxiliar quando justificável, as autoridades policiais e judiciais de modo a garantir a ordem e a tranquilidade públicas, auxiliar as autoridades sanitárias, garantir os regulamentos funerários, mobilizar a população em caso de incêndio e cumprir e fazer cumprir outras ordens ou instruções emanadas do presidente da câmara municipal.
Repete-se que a figura do Regedor criada pelo Decreto de 20 de Novembro de 1830, foi extinta na sequência da introdução da Constituição da República Portuguesa de 1976, em consequência do golpe de estado de 25 de Abril de 1974, como se sabe.

UNIFORME:
Como autoridade, o Regedor tinha de se distinguir, como hoje, na sua apresentação, através de um uniforme. Este  era constituído por uma casaca azul, com um ramo de carvalho em ouro bordado em cada uma das golas, colete de casimira branca, calças azuis, botas e chapéu redondo. A casaca e o colete teriam botões com as armas reais. O chapéu teria o laço nacional e uma presilha preta, na qual estaria gravado o nome da freguesia.

AJUDANTES: 
O Regedor tinha ajudantes para as tarefas que ficam esplanadas, designados por cabos de polícia, sendo a sua influência diminuída, à medida em que  foram alargadas à intervenção da Polícia Civil (que passou à Polícia de Segurança Pública nas área urbanas) e, mais tarde, da Guarda Nacional Republicana nas áreas rurais.

O REGEDOR NA FREGUESIA DE VALONGO DO VOUGA:

Seria completamente inaceitável passar esta passagem histórica sem se referir um pouco do que foi o Regedor e as suas funções na Freguesia ribeirinha do Marnel: Valongo do Vouga.
Na realidade as suas funções existiram, como sabemos  e foram desempenhadas por pessoas que aqui tiveram a sua residência. O último foi MANUEL ALMEIDA BRANCO, pessoa que residiu no lugar da Veiga.
O Sr. "Manuel Regedor", como vulgarmente era tratado e conhecido, que muitos de nós conhecemos, era uma pessoa educada, afável, de bons relacionamentos com a maioria da população e aqui constituiu família.
Ao contrário de alguns dos seus comparsas no cargo, que chegaram a tomar posições e atitudes ditatoriais, não procurava nem se fazia valer da sua autoridade, antes pelo contrário era respeitador e, por isso mesmo, muito respeitado. Não impunha, colaborava com quem quer que fosse, ajudando sempre no seu múnus com elegância e aprumo. Não se fazia valer de horários nem invocava impossibilidades para não colaborar fosse com quem fosse, o dia da semana ou as horas do dia.
Nas suas funções, era obrigatório que a GNR nas suas rondas, necessitava legalmente de comprovar e confirmar a sua passagem e autenticar o seu serviço junto do Regedor, para o qual este sempre se mostrava disponível, além de outras intervenções a que fosse solicitado.
Mesmo junto dos seus descendentes (mormente de seu filho Celestino), não foi possível obter em tempo oportuno uma imagem que pudesse completar melhor este apontamento sobre o Regedor da freguesia de Valongo do Vouga, que, como é fácil de perceber, a sua história está profusamente descrita na Wikipédia, de onde nos socorremos e cujas descrições adaptámos para recordar um pouco da nossa história.
Na toponímia da freguesia de Valongo do Vouga, lugar da Veiga, uma foi dado o nome de Rua do Regedor recordando esta função. Nas funções de Regedor, sucedeu ANTÓNIO GOMES DA SILVA, que residiu em Arrancada do Vouga, na rua Dr. Eduardo da Silva Bastos.

CAPELA E REGEDOR

Foi referida a impossibilidade de obter uma fotografia do protagonista deste naco de história local, para ilustrar este post. Admitimos que para o efeito nada melhor que a fotografia da capela local, que por sinal se situa mesmo frente à residência do Sr. MANUEL ALMEIDA BRANCO, de invocação de N.ª S.ª das Pressas, conforme livro da autoria do Pe. Manuel Domingos Rebelo, com o título "O CULTO A MARIA NA DIOCESE AVEIRO",  edição do Movimento dos Cruzados de Fátima, Dezembro de 1989, com a fotografia na capa da belíssima imagem exposta na capela da Veiga.
Respiga-se do citado livro o seguinte: "Nesta invocação o termo "Pressas" não é antónimo de vagares. Esta palavra arcaica significa: apuro, dificuldade, obstáculo, situação crítica. (Cf. Grande Dicionário da Língua Portuguesa). Maria é a Senhora das Pressas, porquanto está pronta para resolver as nossas dificuldades".
É padroeira da capela da Veiga (Valongo do Vouga). A Corografia Portuguesa, tomo II, trat. II, cap. XXII, menciona esta capela ao tratar "Das vilas de Vouga, Brunide e Aguieira":
Também sobre esta capela, o "INVENTÁRIO ARTÍSTICO DE PORTUGAL - DISTRITO DE AVEIRO - ZONA SUL, editado pela Academia Nacional de Belas Artes - Lisboa 1959, tem uma vasta descrição sobre esta capela, a sua construção e a imagem rematando-se que "Houve aqui uma via sacra de cruzes de pedra, de grandes braços, de que restam algumas bases e outros fragmentos".
Por curiosidade, regista-se que sucedeu a Manuel de Almeida Branco, nas funções de Regedor ANTÓNIO GOMES DA SILVA, que residiu em Arrancada do Vouga, na rua Dr. Eduardo da Silva Bastos, e cremos que este foi o último antes da extinção do cargo.









segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

NOTÁVEIS DA MINHA TERRA - 9

   Eng.º JOSÉ DE BASTOS XAVIER

            
                    A residência  do Eng.º Bastos Xavier     

        O Eng.º José de Bastos Xavier foi uma personalidade marcante na vida da freguesia de Valongo do Vouga. Nasceu no lugar de Arrancada do Vouga em 29 de Outubro de 1902 e faleceu neste lugar em 25 de Março de 1976. Seus pais, recorde-se, foram António Pereira Vidal Xavier e Margarida da Silva Bastos.

            Dizia-se que tinha origens de bretão ou anglo-saxónico, que viera para o continente por sua avó que era da ilha das Flores (Açores). Os seus antepassados fixaram-se na freguesia de Valongo do Vouga e seu pai foi inicialmente funcionário público, exerceu funções de Chefe de Cantoneiros e era dotado de uma grande inclinação inventiva. Assim, quando se dirigia para o trabalho, parava junto de uma corrente de água onde girava uma pequena roda. Na observação contínua desse engenho hidráulico surgiu-lhe a ideia de criar uma indústria que veio a fundar numa sua propriedade, junto à ribeira do Pedrozelo, em Arrancada do Vouga, a primeira fábrica têxtil existente na freguesia e arredores, a conhecida FÁBRICA DA LÃ, vulgarmente assim designada no meio, tornando-se numa próspera indústria ao nível local, nacional e até internacional, sob a denominação de António Pereira Vidal & Filhos, Lda.
           O pai foi proprietário de uma loja de mercearias em Arrancada do Vouga, onde iniciou o seu trabalho como Caixeiro de Balcão, contactando as pessoas que formaram e moldaram o seu acrisolado fervor humanístico e passava já, nesta altura, o tempo a rabiscar em papéis as suas notas a respeito e aquele utilizava esta frase para acentuar e justificar o seu desinteresse pelo trabalho: «Ata as cordas, rapaz. Ata as cordas, rapaz»
           E atou mesmo! Mudou de rumo. Por conselho de um vizinho foi alertado da vocação e inclinação deste seu filho para o campo das letras. Foi para o Porto onde seu tio, padre Joaquim Ferreira Vidal, era diretor espiritual no seminário da Sé e professor e, em três anos, faz todo o curso liceal, matriculando-se depois em Engenharia e obtendo com brilho o seu diploma.
            Contraiu matrimónio com Dulce da Costa Vidal, filha de António da Costa Tavares e Silva e de Maria Joana de Campos Vidal, em 14 de setembro de 1929, na capela do Vale de Estêvão, lugar da freguesia de Mogofores, concelho de Anadia, a quem dedicou o seu romance «GALOPE NA SOMBRA», com esta frase: «À Dulce na sua silenciosa dedicação»
          Teve no seio familiar os irmãos Manuel de Bastos Xavier, António de Bastos Xavier e João Vidal Xavier. Cabe ainda salientar que fez parte de uma plêiade de escritores que integrou o grupo dos chamados ”Novos Prosadores” colocando-o como um dos pioneiros do conjunto do neorrealismo em Portugal, ombreando ao lado de nomes onde figuraram Sidónio Muralha, Fernando Namora, Alves Redol, Carlos de Oliveira, Mário Dionísio, Virgílio Ferreira, João Falcato e Soeiro Pereira Gomes. Das obras editadas, destacam-se os romances de ficção, que foram:
- Cana ao Vento – 1944; 
- Novos Claustros na Montanha – 1953;
- Arame Farpado – 1960;
- O Pátio – 1964;
- Galope na Sombra – 1970;
- A Zorra – 1975;
            Publicou com regularidade vários contos também de ficção em vários órgãos de comunicação, nomeadamente no jornal paroquial «Valongo do Vouga», sob o pseudónimo de “QUASIMODO”, destacando-se a série “HITÓRIAS DA MINHA VIDA – A BEATRIZ DA MINHA INFÂNCIA , entre outras.  Algumas destas obras, comentava-se, focavam conhecidas personagens populares da freguesia, principalmente do lugar de Arrancada do Vouga.
          Chegou a fazer parte dos quadros da função pública, trabalhando em Lisboa, na Direção dos Melhoramentos Rurais e foi Adjunto do Diretor da Junta Autónoma de Estradas em Coimbra e na Guarda. Autor do projeto, dirigindo a construção da estrada de S. Jacinto – Ovar.
            Após esta fase de vida pública, a sua saúde começou a periclitar, pelo que tomou a decisão de pedir uma licença ilimitada (1950), dedicando-se à empresa fundada por seu pai, dirigindo o setor de tinturaria, onde adquirira conhecimentos especializados.
            Desempenhou funções autárquicas, sendo chamado a dirigir os destinos da Câmara Municipal de Águeda, de novembro de 1963 a agosto de 1967, por nomeação. Como é do conhecimento geral, não existiam eleições para as Autarquias, sendo estes cargos e outros desempenhados por nomeação do governo. Não foi reconduzido, sendo demitido, por discordar dos argumentos que estiveram na base da decisão do governo em demitir o Regedor de Recardães.
            Durante este mandato, lançou uma vasta campanha de abastecimento de água domiciliária ao nível do concelho, que sofria de uma acentuada situação de carência – não tendo sido esquecida a sua freguesia – afirmando, muitas vezes, que “nos tempos que correm não se admite que os homens peçam pão, quanto mais água!  tendo proliferado a instalação de um modelo original de fontenário, bem como o lançamento dos projetos dos novos Paços do Concelho, do Posto da GNR e de um grande parque industrial, retirando os edifícios fabris da área urbana da então ainda vila de Águeda e de algumas aldeias do concelho. 
             Esta a recordação que se impunha, ainda assim talvez incompleta, de uma figura importante da freguesia de Valongo do Vouga e do concelho de Águeda, reconhecimento tributado pela Câmara Municipal, dando o seu nome na toponímia de uma rua da nossa cidade.


A capa do romance "CANA AO VENTO", numa 2ª edição especial Fac-similada da Casa do Povo de Valongo do Vouga, 2002, com introdução do Dr. Horácio Marçal, na ocasião da homenagem tributada por aquela Entidade na comemoração do centenário do seu nascimento, que temos em nosso poder.


sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

NOTÁVEIS DA MINHA TERRA - 8

 O CHICO 

Francisco António  da Silva Gomes dos Santos 

      
Intitular esta página com "O CHICO", nada tem de intencional ou pejorativo mas antes, talvez, tentar abusar um pouco da intimidade privilegiada que tive com esta ilustre personalidade da freguesia há umas décadas emigrado no Brasil. Mas afinal de quem se trata? Fazemos esta interrogação porque estamos convictos que haverá por cá muita boa gente que não se recorda. 

Abrimos um pequeno parêntesis para poder reavivar a sua identificação. O nome completo é aquele que está ali em cima. Seus pais foram os não menos ilustres Inspetor Arménio Gomes dos Santos - que não carece de mais apresentações - e Antónia Valente da Silva, insigne professora nas escolas de Arrancada do Vouga na década de cinquenta séc. XX.  (1)
Recorda-se que seu pai, o Inspetor Arménio, nasceu em 9 de  fevereiro de 1900 e faleceu em 30 de abril de 1971, de forma triste e trágica, caído junto ao portão de sua casa quando ia  pedir auxílio, ficando ali à chuva e ao frio toda a noite até ter sido encontrado pela manhã.
Quanto ao "Chico", já em 2 de abril de 2012, em outro blogue que aqui mantivemos, lhe dedicamos uma pequena nota que não resistimos em repetir e que «rezava» assim:

"O Chico foi meu colega de escola. Estava numa fila de carteiras que ficavam alinhadas do lado da parede, após a entrada da porta (lado direito) e fui colocado na segunda carteira, que, como se sabe, comportavam dois alunos. A primeira carteira desta fila era «chefiada» pelo saudoso João Vidal Xavier, há pouco falecido, filho do ilustre escritor, o Eng.º José de Bastos Xavier e de D. Dulce da Costa Vidal.
 Ao meu lado esquerdo ficava a outra fila de alunos da 4ª classe e, na primeira carteira, outro «chefe» intelectual quanto baste, ou não tivesse a hereditariedade que marcar a sua posição. Era professora a saudosa D. Beatriz de Jesus Araújo Moura. Como ela gostava de traduzir os significados deste nomes, que iam desde  a nobreza, religião, desporto à politica..
Há dias, desfolhando na Biblioteca Municipal,  em pesquisas para outros trabalhos, encontrei umas reportagens, nas quais participei (sem fazer nada), cujo autor foi Armor Pires Mota, uma série que era designada «POR ONDE A SERRA COMEÇA», que chegou a tratar de alguns lugares da freguesia, encostados à serra das Talhadas mas pertencentes à área da freguesia de Valongo do Vouga: Redonda, Salgueiro, Moutedo, Gândara a Cadaveira.
Em paralelo com essas pesquisas e com a recordação daquelas interessantes reportagens, encontrei uma referência no Jornal «Soberania do Povo» cuja digitalização aqui deixo, que, pela numeração e em conjugação  com outras reportagens e datas, deve ter sido publicada em 10 de abril de 1971. Infelizmente e imperdoavelmente, não tomei nota da data, que é elementar em pesquisas.
É com evidente saudade e outro tanto de sentimento de um dever, que o que encontrei diz respeito ao Francisco, hoje figura ilustre da Academia Brasileira, cujos degraus subiu a pulso próprio, antes de 1971, não sem conhecer e sentir o que foram as dificuldades porque passou até poder atingir o alto patamar da cultura e do saber. Esta é apenas uma singela lembrança."

O Chico deu-nos o privilégio de se  corresponder connosco já depois de estar no Brasil. Chegou a ser nomeado Comissário de Policia na cidade de S. Paulo-Brasil. Enviou-nos algumas fotografias, com a sua prole, já depois de ter constituído família. Foi o primeiro Português a desempenhar altos cargos públicos na  Magistratura Brasileira. Ofertou-nos o livro «A ÚLTIMA CEIA EM LISBOA», editado em 2001, numa linguagem a todos os títulos excecional e só admissível a quem conheceu o Chico. Trata-se de uma espécie de "reportagem" que pretendeu descrever uma confraternização que fora organizada na noite anterior à sua partida para o Brasil, realizada em Lisboa. E começava assim:

«Era a minha última ceia em Lisboa.
«Ali estávamos todos, sentados à larga mesa da pensão da dona FESSÓNIA. A nossa querida república de estudantes grulhas e madraços! As nossas idades iam dos dezoito aos vinte e cinco anos. Ali estava Portugal inteiro.»

E fazia alinhar as descrições de todos os «grulhas e madraços» que eram oriundos das mais variadas regiões do país, desde Trás-os-Montes, Entre-Douro-e-Minho, Alto Alentejo, Cais do Sodré-Lisboa, Ribatejo, OIivais (Lisboa), Travassos, Semide, Alfacinha (Lisboa), um conterrâneo de Eça. E rematava este introito desta forma:

«Eu era o homenageado, o valido herói, que iria a Sacavém na tarde seguinte, p´ra voar os céus do Atlântico, rumo à América e à Liberdade! Portanto, deram-me a outra cabeceira da mesa , onde, atestado de alegria e acanaveado de emoções, me sentia como numa charola.»

E na última página do livro, fecha assim o quadro:

"Ouvi um berro colossal no fundo do Tempo!
Desgrenhado, aflito, as gâmbias escanifres a pularem-lhe das cuecas, o Psítiros abanava-me:
- Chico, porra! O avião bate as asas daqui a uma hora!
Seria melhor que as não tivesse batido?
Ou que eu não houvesse acordado...?
Nunca, nunca o saberei...

E é esta singela e despretensiosa nota que deixamos por aqui para quem interessar.
Agradecemos ao Filipe Vidal, sobrinho do Chico, a amabilidade e simpatia colaborativa, revertendo a foto possível daquele seu familiar e nosso ilustre conterrâneo.
Inseridas ainda duas imagens - uma do jornal "Soberania do Povo" noticiando o seu brilhante percurso académico em S. Paulo (Brasil) e outra de seu pai - o Inspetor Arménio  - exibindo uma das suas pombas amestradas que possuía na sua casa, que conhecemos, sita junto da Escola EB 2,3. A última imagem é  de um dos dois edifícios (cada um com duas salas  de aula) da escola que existiram nas escolas primárias de Arrancada. Esta ficava do lado nascente da estrada à entrada daquela localidade e era destinada ao sexo feminino, onde lecionou a profª Antónia Valente da Silva e outra igual localizada no mesmo local junto da estrada que segue para Aguieira, que frequentámos durante quatro anos.


(1) - O regime político então existente em Portugal de cariz ditatorial e substituído pelo golpe de estado ocorrido em abril de 1974, como é sabido, tinha até no ensino uma organização nada condizente com as melhores regras da pedagogia, formação e educação, sendo os alunos separados, existindo salas para rapazes e salas para meninas. Durante o recreio, os rapazes não podiam juntar-se às raparigas nas suas brincadeiras e existia uma acentuada discriminação. Os docentes, ao contrário, eram maioritariamente constituídos por senhoras, havendo um diminuto número de docentes do género masculino. Naqueles anos de 1949 os rapazes tinham as suas salas e as raparigas outras (ao todo quatro). As professoras para todas as classes de rapazes e raparigas eram apenas quatro, sendo uma professora para a 1ª e 3ª classes e uma professora para a 2ª e 4ª classes, hoje designados por primeiro ciclo ou primeiro, segundo, terceiro e quarto anos do ensino básico.
    Estas professoras acumulavam as aulas ministrando as matérias dos programas estabelecidos para cada uma das classes, isto é o ensino era desenvolvido com as professoras a terem de se desdobrar para ensinar as crianças cumprindo os programas para cada uma das classes, durante um dia de aulas. Sabe-se que esta situação ainda é sobejamente conhecida de toda a população portuguesa.
    Já que estamos em maré de recordações, parece-nos oportuno historiar algo mais sobre o ensino daquela época de cinquenta do séc. XX. 
    As professoras exerciam uma rude disciplina sobre os alunos, nomeadamente aplicando castigos através das célebres reguadas violentamente dadas sobre as mãos de imberbes crianças, de madeira relativamente pesada, havendo ainda quem utilizasse as celebérrimas «menina de quatro olhos» - uma régua de madeira também pesada, ficando na ponta, em formato redondo, a parte de madeira que batia violentamente nas mãos da «vítima» e onde se situavam quatro furos que provocavam um efeito assaz doloroso.
    Um tempo a que não se pretende regressar, como se compreende.
  Resta ainda acrescentar que as professoras tinham um efetivo total de alunos que, não sabemos ao certo, andaria à volta de mais de quinze a vinte alunos por classe.