quinta-feira, 16 de outubro de 2025

NOTÁVEIS DA MINHA TERRA - 10


 

ANTONIO MARTINS RACHINHAS

VIDA TRICONTINENTAL

     
Foi no dia 9 de Outubro de 2008 que nos abalançamos a publicar, com a regularidade possível, alguns factos e histórias relacionados com a freguesia de Valongo do Vouga inseridos no blogue intitulado «Terras do Marnel». As pesquisas entretanto realizadas demonstravam-nos que havia material de sobra para “alimentar” esta iniciativa por dilatado tempo.
       E assim foi mantida até 6 de novembro de 2020, perfazendo uma longevidade de 12 anos!
     Movido e até motivado por alguns conterrâneos, demonstrando-nos que era uma mais valia manter a sua continuidade, reiniciámos esta presença cibernauta em 31 de outubro do ano findo, está a atingir um ano, com um título praticamente idêntico ao anterior, adicionando-lhe apenas mais uma palavra, surgindo, assim o «Terras do Marnel e Vouga», não sendo de estranhar o alcance intencionalmente introduzido.
    Procurou-se dar algum realce, dando o ênfase a outros motivos, e enaltecendo alguns factos que tiveram origem em pessoas  que já fizeram história na freguesia, criada por alguns conterrâneos que a distinguiram, dotando-a de meios e formas, materiais e sociais, não esquecendo os benefícios que foram proporcionados aos seus concidadãos.
    Foi nessa linha que se achou ser de inteira justiça relembrar todos os que assim procederam, nomeadamente os que fizeram história recente, «porque da lei da morte se foram libertando». Outros que permanecem no nosso convívio e que tudo fizeram para serem colocados no mesmo patamar daqueles que os antecederam.
     Relembrando o que apontamos aqui em 11 de novembro de 2024, quando se iniciou o que convencionamos ser a 2ª série de “Terras do Marnel e Vouga”, colocamos em destaque a ação desenvolvida pelo conterrâneo António Martins Rachinhas. Mais que destacar o que fez em prol de sua Terra, entendemos ser um ato de justiça trazer à liça, se não tudo, pelo menos o que, com alguma estranheza, possa vir a cair no rol dos esquecimentos.
    Se outrora as coisas não eram muito conhecidas, porque desprovidos dos mais elementares meios de registo, atualmente essa questão não se coloca. Por outro lado, entendemos que os reconhecimentos, os registos, as sessões, as homenagens também têm outro efeito, se realizadas com os seus protagonistas presentes entre nós.
   Porém, não querendo ser narcisista, podemos sintetizar a Vida Tricontinental do Rachinhas, principalmente após o seu regresso do Brasil, não enveredando por elaborar uma longa lista de factos, das coisas e dos locais onde se fizeram sentir as suas intervenções que, como chega a admitir nos quatro livros de índole pessoal e familiar, além de outros tantos sobre a história da freguesia de que foi Autor, nos quais deixa uma autenticidade genuína do seu amor intrínseco à sua Freguesia a cuja elevação a Vila muito porfiou para ser colocada no patamar onde outras localidades já se encontravam.
    Paralelamente foi de sua iniciativa a aquisição do espaço conhecido por «Terra do Moinho» em Aguieira e no mesmo fosse construído um novo templo com orago a S. Miguel. É hoje o Largo de S. Miguel, a sala de visitas da Freguesia. Chamado «Terreno do Moinho» porque nele a área era `banhada` por uma ribeira desviada do leito principal, percorrendo uma escassa centenas de metros até a um moinho, que ficava situado sensivelmente no local onde foi construída a capela, o qual era propriedade de um habitante daquele lugar de nome João da Fonseca Lemos, vulgo «João Moleiro».
   Travou uma «luta» (como lhe chamou), durante doze anos, para a criação e construção de raiz da Escola  EB/2,3 de Valongo do Vouga . Ainda na área da educação, lutou junto da Câmara Municipal pela construção de novas instalações para a Escola Primária, nascendo desta forma o prédio onde hoje funciona a  Escola de Música. Ainda nesta área junto do Secretário de Estado, formulou pessoalmente um pedido para que autorizasse a utilização do pavilhão pré-fabricado onde funcionou provisoriamente a Escola EB2,3, que serviu depois para a Escola de Música durante trinta anos.
   Envolveu-se também na criação e compra do terreno – cerca de 12.000 m2 - onde foi implantado, por ideia pessoal, o Parque de Lazer da Boiça (Aguieira).
   Dinamizou  a população de Aguieira a participar em três Orçamentos Participativos, que venceram, arrecadando mais de cem mil euros para a edificação daquele Parque de Lazer.
  Como Presidente da Assembleia de Freguesia, negociou com o proprietário a cedência do terreno necessário para a construção da rua e alargamento do «Lameirão», hoje «Praça de S. Pedro» em Valongo do Vouga.
   Fez vários contactos com a Câmara Municipal, no decorrer dos anos 80, séc. XX, sugerindo a construção de uma via, para evitar os constrangimentos à população das áreas das freguesias de Valongo do Vouga, Macinhata, Préstimo, Macieira de Alcoba e outras localidades terem de cruzar a linha do Vale do Vouga bem como a estrada nacional na Alagoa, resultando na Rua Nova do Emigrante.
   Foi autor da toponímia das ruas do lugar de Aguieira, da letra do hino da novel vila musicada pelo Valonguense, Capitão Amílcar Morais, obteve junto da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto a feitura do busto Souza Batista e foi proponente para a classificação como Monumento de Interesse Público da Igreja Paroquial (MIP), processo que continua a acompanhar junto do Ministério da Cultura. 
   Integrou ou ocupou os seguintes cargos; Presidente da Mesa da Assembleia de Freguesia, Deputado à Assembleia Municipal (três mandatos); Secretário da Comissão de Educação; Secretário da Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida; Vice-Presidente da Direção da Casa do Povo de Valongo do Vouga; Vice-Presidente do Conselho e Fundador da Comissão de Pais (Escola Adolfo Portela); Membro da Assembleia Distrital do PSD (Partido Social Democrata (três mandatos). Nesta fez valer os argumentos necessários para a nova autoestrada Águeda-Aveiro. 
   Travou aceso confronto com a Câmara Municipal e Junta de Freguesia para obstar o encerramento da Rua Visconde de Aguieira, como era desejo destas Autarquias; e com o Ministério das Infraestruturas (e até com o Primeiro Ministro) para colocar cancelas automáticas na passagem de nível do apeadeiro de Aguieira (com perspetivas de solução). 
    Cidadão Honorário da Vila , título concedido em 2013 pela Junta de Freguesia, condecorado com a medalha de ouro pelos relevantes serviços prestados à comunidade Valonguense. 
   Como o próprio afirma em resumo: FOI UMA VIDA DE SONHOS, NA SUA MAIORIA CONCRETIZADOS.
   Admite-se não serem necessários mais argumentos de elevação, a não ser retirar do eterno Camões :
 
                                            Quão doce é o louvor e a justa glória
                                     Dos próprios feitos, quando são soados!
                     Qualquer Nobre trabalha que em memória
                                     Vença ou iguale os grandes já passados.
                              As envejas da ilustre e alheia história
                                     Fazem mil vezes feitos sublimados.
                                           Quem valerosas obras exercita,
                                     Louvor alheio muito o esperta e incita. 


Largo de S. Miguel







          
                             Grupo da Boiça
Em 1º Plano: António Rachinhas; José Carlos Rachinhas; Manuel
Augusto Pereira e Luís Jesus Ferreira: De pé a partir da esquerda: 
Augusto Matos Costa; Manuel Duarte Formiga; Joaquim César 
Rachinhas (Pedro); atrás deste António Ferreira Abreu («Viseu»); 
Manuel Duarte Pinheiro, Jorge Jesus Almeida («Pintassilgo»; 
Manuel Gomes Oliveira; Manuel Borges e cap.Joaquim Miranda.




sexta-feira, 18 de julho de 2025

COISAS DE BAÚS - 8

 GUINÉ - 1963--1965

O JORNAL DA CASERNA

 


    Como foi antecipadamente esclarecido, decorre neste mês de Julho o aniversário da nossa partida e estadia, durante dois anos e um mês, em território Africano da Guiné-Bissau, integrando uma Unidade Militar que, como a história tem clarificado, tinha em vista a manutenção da administração portuguesa, neste e em outros territórios daquele continente. Na sorte que nos coube, como a tantos outros jovens que nos idos anos de 60/70, séc. XX, não escapavam a ter de partir, sem garantias de regresso, para estas paragens Africanas e de outras latitudes do mundo.
    A adaptação, com parcas e minguadas informações sobre tudo o que a tais territórios dizia respeito, havia uma formação e informação, antes da partida, principalmente o que se relacionasse com as doenças tropicais, algumas caraterísticas do seu povo, modo de vida, etc., ministrada por Jovens Aspirantes Oficiais Milicianos promovidos, na data de embarque, a Alferes Miliciano.
    Constituía uma pesada tormenta olhar quase diariamente para o calendário - havia quem riscasse cada dia que ia passando - esperando-se ansiosamente que o tempo corresse mais depressa.
    Depois eram as formas que cada um ia "construindo" os seus passatempos, desde tratar periquitos (e outras aves exóticas) com os espetaculares treinos que se ministravam, conseguindo-se que se apresentassem num evoluído estado de domesticação.
    Além dos macacos, primatas que constituíam as delícias dos seus tratadores que, como se sabe, imitavam com algumas peripécias os gestos e outras atitudes humanísticas. Claro que para além de um vasto conjunto de atividades mediante as possibilidades de cada um, dos seus conhecimentos e dos meios que ao seu redor pudessem deitar mão.
    No caso em apreço, também nos dedicamos a um passatempo e vejam para o que nos deu... publicar um jornal.. a que "vaidosamente" intitulamos Jornal da Caserna.
    O termo "Caserna" é subentendido no edifício que servia de dormitório do pessoal militar. Logo devia exprimir uma orientação de conteúdo que tivesse origem no seu interior. Mas nem sempre foi assim. O seu conteúdo era plasmado por passatempos, redações curiosas socioeconómicas locais. E pretendeu ainda ser cópia de um jornal a sério, tendo ficticiamente, como é notório o cabeçalho com aquele título, o "DIRETOR", ADMINISTRADOR e o EDITOR. Todos identificados elementos integrantes dos quadros daquela Unidade Militar.
    Como isto já vai longo, diremos que aqueles elementos foram por nós convidados, sendo o Diretor "HÉRCULES" o escriturário da Companhia, antagonicamente um "magricelas", o Administrador "MASSINHAS" por ser o homem do "pilim" e o Editor (nós próprios) "ZÉ CANGALHEIRO" porque tinha o propósito de, naquela qualidade, publicar o que fosse mais adequado e que, diga-se em boa verdade, nunca o tivesse feito.
    Há ainda que historiar a forma como começou, como progrediu graficamente, face às técnicas que ainda não existiam, o trabalho, enfim, um ror de coisas que só se avaliam comparando o que temos atualmente com o que naquele tempo ainda era desconhecido. Levanta-se, neste caso, a ponta do véu, referindo que na primeira folha  do tamanho A4, o desenho inserido no cabeçalho, da autoria do Alferes Armando Augusto Geraldes Soares, retrata a frente, junto da estrada, do aquartelamento que ocupamos em INGORÉ.
    A estas recordações voltaremos...

sábado, 12 de julho de 2025

COISAS DE BAÚS - 7

     

HISTÓRIAS DA GUINÉ

    Como ficou clarificado no anterior post, está a decorrer o aniversário das inclementes idas forçadas de jovens militares para territórios Africanos, que tinham por missão impedir que os movimentos organizados em guerra de guerrilha, que procuravam obter, pela força das armas, a almejada independência e autodeterminação da parte dominante, neste caso de Portugal.
    No que a nós diz respeito a sorte, pela força da idade, calhou-nos nos anos de 1963 a 1965. Eram dois anos de tempo de vida militar, como é demais sabido, havendo casos, conforme a especialidade, que atingiram cerca de quatro anos de ausência do país, da família, do trabalho.
    E agora restam-nos as recordações do que foi esse tempo, durante o qual também será lógico evidenciar que se criaram laços, e se fomentaram aproximações entre povos e até se constituíram famílias. E as realidades da vida quotidiana lá se  ia desenrolando, criando-se ansiedades quanto ao regresso cujo tempo parecia que nunca mais chegava ao seu términus.
    Os registos dessas recordações iam ficando em rudimentares máquinas fotográficas, como as que aqui se reproduzem. Em cada um dos registos ficam descritas algumas curiosidades, tanto no tempo (aproximado deque nos recordamos), ao modo de vida e às finalidades que representavam.

Foto obtida por volta de 1963/1964. Um edifício junto da estrada principal, a escassos três ou quatro quilómetros da fronteira com o Senegal e que nos serviu de Secretaria da Companhia que ali permaneceu cerca de um ano. O edifício fora alugado aos serviços militares por um imigrante português e que serviu de «local do nosso trabalho» administrativo, em substituição do1º Sargento, que fora evacuado para Lisboa por motivo de acidente de viação, ou seja, éramos o responsável pelo bom andamento do serviço administrativo que era adstrito à Subunidade Militar. Um possível momento de pausa, enquanto não se retomava o trabalho.

Não dá para se perceber. Mas sabemos perfeitamente o que estava nas mãos, nos braços e nos ombros. Local denominado BULA, muito conhecido por se tratar de um nó rodoviário (de terra batida) e local bastante estratégico da guerrilha, nas zonas de Mansoa, Mansabá, Binar, Bissorã. O que transportamos nos ditos membros superiores, não é nada mais, nada menos, que notas do Banco Nacional Ultramarino, entidade que era responsável  pela emissão de moeda em alguns territórios sob administração portuguesa. Como se compreende facilmente tinha acabado de fazer um levantamento, provavelmente para o pagamento do pré. 

Esta foto foi registada na estrada que liga Bissau ao Aeroporto e ficava sobranceira ao Hospital Militar. Pela aparência, será fácil deduzir que estava de licença, de trinta dias, passada relativamente afastado da guerrilha. 
E com uma vantagem; nesta Unidade de Saúde Militar prestaram serviço dois conterrâneos, um deles de Arrancada do Vouga, sobejamente conhecido; o segundo, dos lados de Casal de Álvaro componente da Banda de Música desta localidade e companheiro de trabalho na fábrica de ferragens Amaro, Lda. O Hospital, felizmente, não serviu para a cura de qualquer mal, mas com a condescendência destes dois amigos, serviu sim de hospedagem durante aqueles trinta dias.

Em conclusão, resta acrescentar que mais havia e haverá a contar. Que se guarda para melhor oportunidade .


sexta-feira, 4 de julho de 2025

COISAS DE BAÚS - 6

 O IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS

Uma história em 14 de julho de 1964

    Fazer uma explanação sobre os Impérios que existiram no mundo, não é difícil. Afloramos este caso, em particular, para afirmar que Portugal também esteve entre as potencias colonizadoras, ao lado da Inglaterra, França, Estados Unidos da América, Espanha, Bélgica, Holanda e outros países europeus que se evidenciaram na ocupação de territórios asiáticos, sul-americanos, africanos, etc..    
    Sabemos pela história a influência que Roma produziu quanto aos Impérios que dominaram o mundo, principalmente no Norte de África e Médio Oriente sendo por demais conhecidos os Imperadores Romanos que reinaram. Outros Impérios existiram aos quais a história guardou o seu bocado. O que importa, por agora, será recordar e trazer à tona das águas o papel que Portugal desempenhou no que respeita ao desenvolvimento do fenómeno que proliferou e conheceu o seu apogeu nos seculos XV, até  aos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX .                                                                                                                                                                                                                              Bula-Guiné (Bissau) 1964
    Na realidade, este pequeno país que possuía apenas o mar para explorar, chegou a ser, já no século XX, a maior potência mundial no que se refere ao Império que dominava. Claro que importa evidenciar quais eram as possessões que só  há pouco   mais de cinco décadas se tornaram independentes por efeito  do golpe de Estado ocorrido em 25 de Abril de 1974, como é conhecido.

    Os territórios que passaram a constituir o Império Português, hoje países independentes, eram Cabo Verde,  S. Tomé e Príncipe, Guiné (Bissau), Angola, Moçambique, Macau e Timor.

 Claro que está implícito, agora, saber-se o porquê deste apontamento histórico; É que como é de mais conhecido, Portugal passou por um período longo de guerra de guerrilha, que se desenvolveu dentro daqueles territórios, apoiados por países  vizinhos ou organizações nestes instaladas, procurando "expulsar" com a força das armas o dominador. O regime político de então mantendo uma decisão em nada condizente com a evolução dos tempos e do que outros países já tinham decidido em conceder por meios pacíficos a autodeterminação e independência desses povos, mobilizou no serviço militar obrigatório todos os jovens que eram colocados a combater os movimentos de libertação em atividade naqueles territórios.

    Assim se verificou que em quase todas as  casas de um Portugal pequenino, havia alguém que era mobilizado obrigatoriamente e "enviado" para aqueles paragens distantes, sabendo-se antecipadamente que o resultado final seria sempre a negociação para uma ulterior troca de poderes.

    Foi assim que em Julho de 1965 - precisamente no dia 14 daquele mês de uma canícula não tão violenta como a que agora sentimos - nos meteram numa cargueiro que detinha o nome de «SOFALA» e, com mais umas centenas de camaradas militares dos diversos ramos das forças armadas, fomos enviados para a Guiné (Bissau). Já lá vão 60 anos!!!!

    É evidente que  esta história não acaba aqui. Antes pelo contrário, começa aqui...

    Com efeito um documento conhecido por Caderneta Militar, no qual era registada toda a carreira militar que os jovens dos anos sessenta e setenta, séc. XX , tinham percorrido nas fileiras das Forças  Armadas de Portugal.

    Ora, será lógico dizer-se que não fugimos a esta obrigatoriedade e no referido documento, além de ouros factos que não importam focar, está escrito o seguinte:

"Página 20 - Ocorrências Extraordinárias:
1963 - Nomeado nos termos da alínea c), do art.º 3.º do Dec. 42937, de 22-4-60 para servir no Ultramar. Embarcou em Lisboa em 14 de Julho com destino ao CTI da Guiné; fazendo parte da CCaç. 462. Desembarcou em Bissau a 21 de Julho, desde quando conta  100% de aumento no tempo de serviço. 1965. Embarcou em Bissau, de regresso à Metrópole, em 7 de agosto, desde quando deixa de contar 100% de aumento no tempo de serviço. Desembarcou em Lisboa em 14 do mesmo mês."

Esta nota recordatória justifica-se por estarmos próximos do dia 14 de Julho, data do aniversário deste acontecimento, que não deixa saudades.

Nota: - Na foto com uniforme de gala, pronto para desfile  que não se  realizou, porque o local, conhecido por BULA, era um importante nó rodoviário da Guiné e sito nas proximidades das instalações militares do Comando de Batalhão de Caçadores 507, em importante zona de guerrilha onde permanecemos cerca de um ano.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

HISTÓRIA DA MINHA TERRA - 3

 O CÓDIGO DE POSTURAS 

E OS BALDIOS

O Código de Posturas da Junta de Freguesia de Valongo do Vouga, que foi aprovado e aplicado na sua área territorial no ano de 1947, continha alguns factos, talvez um tanto inéditos naquela época, os quais constituem história. Esses factos estão relacionados com propriedades designadas por BALDIOS.
Os BALDIOS eram terrenos não pertencentes a qualquer cidadão ou outra entidade, ou seja, numa linguagem vulgar, não eram propriedade de ninguém.
Existe profusa e esclarecedora definição destas propriedades no meio cibernauta, que nos permitimos citar, por exemplo, o site https://ffms.pt/pt-pt/fundacao, da Fundação Alexandre Soares dos Santos, que descreve:

"Baldios são terrenos destinados a servir de logradouro comum dos vizinhos de uma povoação ou de um grupo de povoações. Destinam-se à satisfação de certas necessidades individuais, como a apascentação de gado, a apanha de lenha ou o fabrico de carvão de sobro. A sua origem resulta da necessidade que os moradores de aldeias rurais, vivendo da exploração familiar, tinham de dispor de espaços incultos onde pudessem exercer as actividades complementares da atividade agrária".

Seguem-se mais definições e outras informações acerca desta matéria. É do conhecimento geral o que representaram os BALDIOS na vizinha freguesia do Préstimo. Originaram uma forte movimentação, nomeadamente na Comunicação Social, que justificou durante um largo período de tempo regulares reportagens publicadas no semanário local "Soberania do Povo", da autoria do poeta e jornalista bairradino (e particular amigo pessoal) Armor Pires Mota, com a epígrafe O Préstimo a Caminho de Lisboa - As Arbitrariedades dos Serviços Florestais.
Nestas reportagens em que também participámos, acompanhados por um grupo de jovens ao tempo, a sua repercussão foi enorme, quer ao nível do concelho, do distrito e até do País.
Na freguesia os Baldios foram, como se referiu, importante fator de interesse e alguma repercussão económica. A Junta de Freguesia presidida pelo conceituado professor João Batista Fernandes Vidal, em nota de rodapé naquele documento jurídico, no CAPÍTULO II - Património Paroquial, diz que "Todos os terrenos ditos baldios e de logradouro comum existentes na freguesia são bens próprios da Junta - porque os comprou - e constituem Património Paroquial". 
E as anotações do prof. Vidal são seguem:
    "Façamos aqui um pouco de história, porque aos vindouros interessa saber a razão porque esta freguesia dispõe dos seus baldios, nos quais eles podem estender a vista no enlevo de viçosos talhões de arvoredo que ali possuam, a troico de uns míseros tostões que pagam à Junta, enquanto que às freguesias vizinhas não é dado gozar de tal regalia. Pois essa regalia de que hoje se goza nesta freguesia só se deve às nossas  canseiras.
        A questão da posse dos baldios vinha de longe e já no tempo da Monarquia, em 1883 uma Câmara houve que deliberou considerar paroquiais os baldios de Macinhata e Valongo. Mas outra Câmara veio que anulou aquela deliberação, por inconsistente, e  os baldios continuaram em posse do Município.
Com o advento da República quis o acaso que, como agora, presidíssemos aos destinos desta Junta.
     Como sabíamos de sobra que o melhor futuro da freguesia - que é pobre - estava na posse e aproveitamento dos seus baldios, encetámos a campanha pró-posse destes baldios, campanha em que encontrámos sempre o melhor auxílio do velho amigo, Sr. Casimiro de Oliveira Bastos, que era então secretário da Câmara Municipal de Águeda. Mas a verdade é que conversações, abaixo-assinados, representações, etc., tudo esbarrava com a mesma dificuldade: a falta de base legal para o reconhecimento dessa posse. Podia qualquer Câmara resolver esse reconhecimento. Mas, como tal resolução não tinha fundamento legal, outra Câmara viria anulá-lo, como já sucedeu no tempo  da Monarquia.
    O certo é que esta questão vinha-se arrastando havia já meia dúzia de anos sem se descobrir maneira de legalmente ser resolvida. Contudo, não desistimos de cogitar na maneira de resolver o problema  que sempre considerámos de vida ou  de mote para a vida económica da freguesia. Até que um dia ocorreu-nos uma ideia, ideia Providencial: A Junta compraria os baldios à Câmara!
    Esta transação era inteiramente legal, mediante o cumprimento de certas formalidades exigidas pelo Código Administrativo então vigente, aliás fáceis de realizar.
    Corremos logo a expor ao então presidente da Câmara e nosso amigo, Sr. Celestino da Silva Neto anosa ideia, que ele achou genial, admirando que tal ainda não tivesse lembrado a ninguém. (É a história do ovo de Colombo «Muitas coisas fáceis não lembram  toda a gente").
    Obtido o assentimento de toda a Câmara, logo se resolveu o negócio e, cumpridas as formalidades legais, tanto por  parte da Junta como da Câmara, foram, finalmente, os baldios desta freguesia adjudicados à Junta, por escritura de 5 de janeiro de 1947, pela quantia 200$00 (duzentos escudos)."

    E concluiu o presidente da Junta de Freguesia em 1947:

    Dos enormes benefícios que esta solução trouxe à vida económica da freguesia já hoje ninguém duvida. São muitos milhares de contos (ao tempo, um conto correspondia a 1.000$00=5€) que cá ficam e que, sem ela, veríamos ir para fora, como está sucedendo às freguesias  vizinhas, cujos homens - como também os houve cá dentro - se permitiram de nos censurar asperamente pela solução que demos ao caso dos baldios. Hoje sentimo-nos largamente recompensados dessas censuras ao ouvir dizer aos mesmos ou aos seus conterrâneos: «As nossas freguesias não tiveram, como a de Valongo, quem cuidasse dos seus interesses e por isso lhe estamos agora a sofrer as consequências, porque os nossos baldios passaram à posse da Junta de Colonização Interna (Florestal) privando-nos assim das grandes regalias que os de Valongo estão fruindo com a posse dos seus».
    É esta uma grande verdade, verdade que naquele tempo ninguém via, mas que nós nunca descurámos nem descansámos enquanto definitivamente não conseguimos ver resolvido o magno problema da posse dos baldios da freguesia.
    E assim fica narrada, com verdade, a história dos baldios de Valongo do Vouga, para os curiosos que desejam conhecê-la."

    Mas mais elementos históricos existem;

    Possuímos fotocópia de uma certidão de teor que foi passada no ano de 1973, pela Repartição de Finanças do Concelho de Águeda, a requerimento do presidente da Junta de Freguesia então em exercício,  Sr. Manuel da Fonseca Morais, a qual narrativamente faz a descrição de mais de 100 (cem) artigos de propriedades rústicas em nome da Junta de Freguesia em 34 páginas datilografadas.
    Sabe-se que entre essas propriedades avultam terrenos de grandes dimensões, de pinhal e outras árvores, que naquele  ano de 1947 constituíam formas de alguma fortuna e riqueza.

    


sexta-feira, 18 de abril de 2025

IMAGENS DA MINHA TERRA - 6

                

CASAS COM HISTÓRIA


             Palacete da Quinta de Aguieira
                                                                

    Tendo em conta o que é descrito naquela publicação, podemos dela respigar  algumas notas históricas acerca dos edifícios que existiram ou ainda existem na área geográfica da freguesia. No que respeita à imagem do Palacete da Quinta de Aguieira, a primeira imagem acima reproduzida, aquela publicação diz-nos que "A casa dos Viscondes de Aguieira (título criado em 1872), vasta e com capela, é de tipo corrente do século XIX . A capela, posto que a frontaria seja moderna, conserva o interior antigo. O milésimo de 1735 na porta da sacristia deve ser o da sua data média. Dessa primeira metade do século XVIII é o teto e a pintura; dividido em nove caixotões e estes ocupados com cenas da Paixão, de tipo corrente. O sub-coro tem pinturas de rótulos encerrando emblemas igualmente da Paixão".
Seguem-se mais descrições da capela considerando ser o retábulo da primeira metade setecentista, D. João V final, de certa categoria com altas aletas e escultura de imagens, citando N.ª S.ª do Bom Despacho (orago daquela capela) e outras, finalizando com a referência à instituidora D. Maria Eufrásia Pacheco Teles (1690-1758). "O brasão da mesma capela que é do século passado (séc. XIX); esquartelado de Figueiredos, Pachecos, Teles e Morais".
    A segunda imagem, cujo edifício foi há alguns anos relativamente recentes demolido, como muitos se recordarão, situava-se na área hoje ocupada com um moderno edifício a seguir ao cruzeiro de Aguieira, no sentido poente,  que foi propriedade de  Guilherme de Vasconcelos, que fez parte dos poucos reformados da função pública.
    Em seguida, deparamos com uma habitação, sita no lugar de Arrancada do Vouga, a que se refere a imagem ao lado. A obra da Academia Nacional de Belas Artes faz uma "relação partindo da zona baixa, do ponto do cruzeiro. Grande casa de seis vãos no andar nobre, tendo verga direita e cimalha, o antepenúltimo formando janela rasgada e com sacada e grade de ferro de  varões anelados; os outros são de janelas de avental retangular, este pousado nas cornijas das aberturas inferiores; aos lados das janelas mísulas retangulares". 
    Esta casa foi propriedade de Alberto Henriques, que passou para seu filho Fernando Alberto Henriques e deste, o último, foi Alberto Manuel Coutinho Henriques, está situada na Rua Conselheiro Rodrigues de Bastos. Nesta rua verificam-se a existência de casas, tanto do lado direito como do lado esquerdo com caraterísticas "a que se poderiam juntar outras desaparecidas já neste século XX que demonstram a prosperidade da povoação naquelas épocas e como se congregou, nesta terra de arrancada da estrada para a serra e além Caramulo, a pequena nobreza e a burguesia  regional, posto que não fosse sede de concelho e o fossem povoações envolventes, as de Vouga, Brunhido e Aguieira".

A casa que se apresenta ao lado, foi demolida. Estava situada em Brunhido na rua junto ao lavadouro e de acesso à capela de Santo Estêvão. Ainda da obra da Academia Nacional de Belas Artes, que temos vindo a citar, diz assim:
"CASA ANTIGAS  - em BRUNHIDO. Distingue-se esta antiga vila por uma casa nada comum nesta região, em que o grés tenro é a pedra natural. São os seus vãos de granito. Deve pertencer à primeira metade do século XVIII. A fachada principal volta-se para a rua que leva à capela e a outra para um cruzamento. Tem esta duas janelas rasgadas, de lintéis e cornijas, sacada sobre mísulas, ligando-se-lhes as janelas inferiores, que são de avental. As grades de ferro datam do século XIX, posto que tenham certo aspeto de mais antigas, encerrando monograma formado por dois JJ".
Seguem-se outras descrições sobre cunhais, varanda, parapeito e outras definições da respetiva construção, rematando coma indicação de que "não tem infelizmente brasão". "Reempregaram em casa de tipo corrente, lintel em grés vermelho datado de 1707 ANNOS, com o letreiro: EV ANT/ROIZ// A FIS POR CONTA DE//MEI DA  FONSEQVA."                                             

 Sobre esta casa, que estava situada em Brunhido, foi a conhecida «Casa da Audiência» que serviu os serviços públicos do então  concelho de Brunhido,  não existindo qualquer referência na publicação que nos serviu de suporte, apenas referindo que "a antiga casa da audiência está substituída por outra sem caráter. Desapareceu o pelourinho que se levantava em cruzamento de ruas, sitio ocupado   por cruzeiro novo."                        
Sobre esta casa e o pelourinho, mais havia, certamente,  que historiar. Foi também demolida.


                      Brunhido - Casa da Audiência
                                     (demolida)

sábado, 5 de abril de 2025

HISTÓRIA DA MINHA TERRA - 2

 O CÓDIGO DE POSTURAS - 1

    Os Códigos de Posturas, nos países lusófonos, surgem para "regular  todas as espécies de relações estabelecidas entre os vizinhos, as de natureza puramente civil, as de caráter económico e as simples medidas preventivas de índole policial.  É esta a trajetória seguida no primeiro período da sua evolução. No segundo período a postura, entrando numa fase de repouso, estabiliza, cristalizando no conceito de lei preventiva de polícia elaborada pelas Câmaras Municipais, para boa ordem  das relações entre vizinhos e regulamentação das atividades económicas."
      Esta introdução tem a finalidade de recordar o que, em matéria de legislação existia, ao nível de Freguesia, aplicável aos seus habitantes, às suas atividades e não só. 
      E tudo isto para relembrar que a freguesia de Valongo do Vouga teve o seu Código de Posturas - admitindo-se que não terá sido o primeiro pelo que consta no artigo 48º. 

    O Código de Posturas de uma freguesia, era elaborado pela Junta respetiva, submetido ao Parecer do "Advogado Síndico da Câmara Municipal" e por esta aprovado ou não, de acordo com o Parecer daquele.
      A situação, hoje, já faz parte da história. Um exemplar desse Código que esteve em vigor na freguesia de Valongo do Vouga, - cedido por António Rosa da Silva Magalhães, de Fermentões - personalidade demais conhecida localmente, em várias anotações de rodapé entre outras curiosidades, refere que foi aprovado em 1947, em 12 de Abril deste ano, séc. XX.

        A digitalização  apresentada possibilita confirmar os factos históricos que lhe estão associados. Porque se admite constituir uma novidade e curiosidade interessante, a este pormenor histórico local voltaremos, porque estamos em crer que se justifica para conhecer o que constituía uma parte da vida coletiva de antanho.
     Um pormenor também curioso, é que este instrumento legal foi aprovado definitivamente em sessão de 13/4/47, entrando imediatamente em vigor com efeitos retroativos em matérias específicas que tratavam alguns dos seus artigos.
       O Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de então era Nuno Aureliano Furtado de Mendonça e Matos, a Junta de Freguesia constituída pelo professor João Batista Fernandes Vidal, Presidente, Joaquim Correia, secretário e António Coutinho de Vasconcelos, tesoureiro. O primeiro residia no entroncamento que dá para a Veiga, a seguir ao Cruzeiro de Aguieira, como de certo muitos se lembrarão à qual a Junta de Freguesia na toponímia atribuiu o seu nome. O segundo foi morador no lugar da Veiga, sendo o último o conhecido António Coutinho, de Arrancada do Vouga.
Aqui voltaremos com outros pormenores de índole histórica sobre este assunto, que naquele código se encontram.