GUINÉ - 1963--1965
O JORNAL DA CASERNA
Como foi antecipadamente esclarecido, decorre neste mês de Julho o aniversário da nossa partida e estadia, durante dois anos e um mês, em território Africano da Guiné-Bissau, integrando uma Unidade Militar que, como a história tem clarificado, tinha em vista a manutenção da administração portuguesa, neste e em outros territórios daquele continente. Na sorte que nos coube, como a tantos outros jovens que nos idos anos de 60/70, séc. XX, não escapavam a ter de partir, sem garantias de regresso, para estas paragens Africanas e de outras latitudes do mundo.
A adaptação, com parcas e minguadas informações sobre tudo o que a tais territórios dizia respeito, havia uma formação e informação, antes da partida, principalmente o que se relacionasse com as doenças tropicais, algumas caraterísticas do seu povo, modo de vida, etc., ministrada por Jovens Aspirantes Oficiais Milicianos promovidos, na data de embarque, a Alferes Miliciano.
Constituía uma pesada tormenta olhar quase diariamente para o calendário - havia quem riscasse cada dia que ia passando - esperando-se ansiosamente que o tempo corresse mais depressa.
Depois eram as formas que cada um ia "construindo" os seus passatempos, desde tratar periquitos (e outras aves exóticas) com os espetaculares treinos que se ministravam, conseguindo-se que se apresentassem num evoluído estado de domesticação.
Além dos macacos, primatas que constituíam as delícias dos seus tratadores que, como se sabe, imitavam com algumas peripécias os gestos e outras atitudes humanísticas. Claro que para além de um vasto conjunto de atividades mediante as possibilidades de cada um, dos seus conhecimentos e dos meios que ao seu redor pudessem deitar mão.
No caso em apreço, também nos dedicamos a um passatempo e vejam para o que nos deu... publicar um jornal.. a que "vaidosamente" intitulamos Jornal da Caserna.
O termo "Caserna" é subentendido no edifício que servia de dormitório do pessoal militar. Logo devia exprimir uma orientação de conteúdo que tivesse origem no seu interior. Mas nem sempre foi assim. O seu conteúdo era plasmado por passatempos, redações curiosas socioeconómicas locais. E pretendeu ainda ser cópia de um jornal a sério, tendo ficticiamente, como é notório o cabeçalho com aquele título, o "DIRETOR", ADMINISTRADOR e o EDITOR. Todos identificados elementos integrantes dos quadros daquela Unidade Militar.
Como isto já vai longo, diremos que aqueles elementos foram por nós convidados, sendo o Diretor "HÉRCULES" o escriturário da Companhia, antagonicamente um "magricelas", o Administrador "MASSINHAS" por ser o homem do "pilim" e o Editor (nós próprios) "ZÉ CANGALHEIRO" porque tinha o propósito de, naquela qualidade, publicar o que fosse mais adequado e que, diga-se em boa verdade, nunca o tivesse feito.
Há ainda que historiar a forma como começou, como progrediu graficamente, face às técnicas que ainda não existiam, o trabalho, enfim, um ror de coisas que só se avaliam comparando o que temos atualmente com o que naquele tempo ainda era desconhecido. Levanta-se, neste caso, a ponta do véu, referindo que na primeira folha do tamanho A4, o desenho inserido no cabeçalho, da autoria do Alferes Armando Augusto Geraldes Soares, retrata a frente, junto da estrada, do aquartelamento que ocupamos em INGORÉ.
A estas recordações voltaremos...
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