Eng.º JOSÉ DE BASTOS XAVIER
A residência do Eng.º Bastos Xavier
O Eng.º José de Bastos Xavier foi uma
personalidade marcante na vida da freguesia de Valongo do Vouga. Nasceu no
lugar de Arrancada do Vouga em 29 de Outubro de 1902 e faleceu neste lugar em
25 de Março de 1976. Seus pais, recorde-se, foram António Pereira Vidal Xavier
e Margarida da Silva Bastos.
Dizia-se que tinha origens de bretão ou
anglo-saxónico, que viera para o continente por sua avó que era da ilha das
Flores (Açores). Os seus antepassados fixaram-se na freguesia de Valongo do
Vouga e seu pai foi inicialmente funcionário público, exerceu funções de Chefe
de Cantoneiros e era dotado de uma grande inclinação inventiva. Assim, quando
se dirigia para o trabalho, parava junto de uma corrente de água onde girava
uma pequena roda. Na observação contínua desse engenho hidráulico surgiu-lhe a
ideia de criar uma indústria que veio a fundar numa sua propriedade, junto à
ribeira do Pedrozelo, em Arrancada do Vouga, a primeira fábrica têxtil
existente na freguesia e arredores, a conhecida FÁBRICA DA LÃ, vulgarmente assim designada no meio, tornando-se
numa próspera indústria ao nível local, nacional e até internacional, sob a
denominação de António Pereira Vidal
& Filhos, Lda.
O pai foi proprietário de uma loja de
mercearias em Arrancada do Vouga, onde iniciou o seu trabalho como Caixeiro de Balcão, contactando as
pessoas que formaram e moldaram o seu acrisolado fervor humanístico e passava já,
nesta altura, o tempo a rabiscar em papéis as suas notas a respeito e aquele utilizava
esta frase para acentuar e justificar o seu desinteresse pelo trabalho: «Ata as cordas, rapaz. Ata as cordas, rapaz».
E atou mesmo! Mudou de rumo. Por
conselho de um vizinho foi alertado da vocação e inclinação deste seu filho
para o campo das letras. Foi para o Porto onde seu tio, padre Joaquim Ferreira
Vidal, era diretor espiritual no seminário da Sé e professor e, em três anos, faz
todo o curso liceal, matriculando-se depois em Engenharia e obtendo com brilho
o seu diploma.
Contraiu matrimónio com Dulce da Costa
Vidal, filha de António da Costa Tavares e Silva e de Maria Joana de Campos
Vidal, em 14 de setembro de 1929, na capela do Vale de Estêvão, lugar da
freguesia de Mogofores, concelho de Anadia, a quem dedicou o seu romance
«GALOPE NA SOMBRA», com esta frase: «À
Dulce na sua silenciosa dedicação».
Teve no seio familiar os irmãos Manuel de
Bastos Xavier, António de Bastos Xavier e João Vidal Xavier. Cabe ainda salientar que fez parte
de uma plêiade de escritores que integrou o grupo dos chamados ”Novos Prosadores” colocando-o como um
dos pioneiros do conjunto do neorrealismo em Portugal, ombreando ao lado de
nomes onde figuraram Sidónio Muralha, Fernando Namora, Alves Redol, Carlos de
Oliveira, Mário Dionísio, Virgílio Ferreira, João Falcato e Soeiro Pereira
Gomes. Das obras editadas, destacam-se os romances de ficção, que foram:
- Cana ao Vento – 1944;
- Novos Claustros na Montanha – 1953;
- Arame Farpado – 1960;
- O Pátio – 1964;
- Galope na Sombra – 1970;
- A Zorra – 1975;
- Novos Claustros na Montanha – 1953;
- Arame Farpado – 1960;
- O Pátio – 1964;
- Galope na Sombra – 1970;
- A Zorra – 1975;
Publicou com regularidade vários
contos também de ficção em vários órgãos de comunicação, nomeadamente no jornal
paroquial «Valongo do Vouga», sob o pseudónimo de “QUASIMODO”, destacando-se a série “HITÓRIAS DA MINHA VIDA – A
BEATRIZ DA MINHA INFÂNCIA “, entre
outras. Algumas destas obras, comentava-se, focavam conhecidas personagens populares da freguesia, principalmente do lugar de Arrancada do Vouga.
Chegou a fazer parte dos quadros da
função pública, trabalhando em Lisboa, na Direção dos Melhoramentos Rurais e foi
Adjunto do Diretor da Junta Autónoma de Estradas em Coimbra e na Guarda. Autor
do projeto, dirigindo a construção da estrada de S. Jacinto – Ovar.
Após esta fase de vida pública, a
sua saúde começou a periclitar, pelo que tomou a decisão de pedir uma licença
ilimitada (1950), dedicando-se à empresa fundada por seu pai, dirigindo o setor
de tinturaria, onde adquirira conhecimentos especializados.
Desempenhou funções autárquicas,
sendo chamado a dirigir os destinos da Câmara Municipal de Águeda, de novembro
de 1963 a agosto de 1967, por nomeação. Como é do conhecimento geral, não
existiam eleições para as Autarquias, sendo estes cargos e outros desempenhados
por nomeação do governo. Não foi reconduzido, sendo demitido, por discordar dos
argumentos que estiveram na base da decisão do governo em demitir o Regedor de
Recardães.
Durante este mandato, lançou uma
vasta campanha de abastecimento de água domiciliária ao nível do concelho, que
sofria de uma acentuada situação de carência – não tendo sido esquecida a sua
freguesia – afirmando, muitas vezes, que “nos
tempos que correm não se admite que os homens peçam pão, quanto mais água!”
– tendo proliferado a instalação de um modelo original
de fontenário, bem como o lançamento dos projetos dos novos Paços do Concelho,
do Posto da GNR e de um grande parque industrial, retirando os edifícios fabris
da área urbana da então ainda vila de Águeda e de algumas aldeias do concelho.
Esta a recordação que se impunha, ainda
assim talvez incompleta, de uma figura importante da freguesia de Valongo do
Vouga e do concelho de Águeda, reconhecimento tributado pela Câmara Municipal, dando o seu
nome na toponímia de uma rua da nossa cidade.
A capa do romance "CANA AO VENTO", numa 2ª edição especial Fac-similada da Casa do Povo de Valongo do Vouga, 2002, com introdução do Dr. Horácio Marçal, na ocasião da homenagem tributada por aquela Entidade na comemoração do centenário do seu nascimento, que temos em nosso poder.
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